Projetos do governo estão trancados no caixa do Tesouro

Não pense que sou pessimista. A primeira coisa que me vem à cabeça é a desconfiança. Acontece que, de tanto levar cassetete nas costas, o lombo ficou mais resistente. Chegamos a um estágio de descrença que é a primeira coisa que aflora quando os governos anunciam qualquer tipo de mudança. A descrença é a comissão de frente da escola de samba da desconfiança política. E aí o projeto automaticamente perde força. É o caso do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Quando o governo resolveu encaminhar ao Congresso o aumento do IOF, eu perguntei para mim e para meus telespectadores na TV Liberdade: “Já combinaram com o Congresso?” E aí, é claro, me veio à mente uma pergunta de um jogador de futebol, muito humilde, que ao receber instruções de seu treinador apenas perguntou: “Já combinaram com os homens?” Esse personagem teria sido o Garrincha, após as instruções de seu treinador. Ao lhe dar a preleção, teria explicado a ele (Garrincha): Tu pegas a bola e sai correndo pela linha lateral e dá uma parada rápida após colocar o pé sobre a bola. O teu marcador, que já passou por ti, vai parar e voltar. Quando ele voltar, tu segues até cruzar na área.
“Entendeu?”, perguntou. O personagem da semana de Nelson Rodrigues informou o que Garrincha teria respondido: “Já avisaram os homens?”
Voltei: Ontem, terça, dia 3 de junho, o presidente Lula resolveu chamar os presidentes das duas casas legislativas e outras personagens públicas para tratar do tema (IOF). Vou reproduzir (colar) parte da matéria publicada pelo Correio Braziliense de ontem que dá maior sentido à análise acima:
“A coletiva foi convocada às pressas na manhã, sem aviso prévio sobre o tema, e teve início com quase uma hora de atraso. As declarações se dão em meio a um entendimento de que o presidente precisa ‘voltar a falar mais’, como porta-voz principal dos feitos do governo. O presidente negou que tenha havido um erro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao fazer o anúncio sobre o tema. ‘Não acho que tenha sido erro, foi o momento político. Foi o que eles tinham pensado naquele instante.’”
O petista não falou sobre a possibilidade que está sendo ventilada de desvinculação do salário-mínimo e dos pisos da saúde e da educação. “Eu preciso ver qual é a proposta. As pessoas estão discutindo e vão me apresentar, a reunião está durando há dois dias”, disse. Lula defendeu, ainda, que a discussão seja feita junto às lideranças. “É dar um voto e um crédito para os nossos líderes”, disse. “Toda vez que a gente toma uma atitude sem conversar com as pessoas que vão ter que nos defender e defender a proposta, a gente pode cometer erros”, emendou.
Aqui está o resumo da ópera: não avisaram os homens. O que eles querem é a liberação das emendas antes de mais nada. Fora isso, presidentes da Câmara e do Senado não mandam nada. Quem manda é o plenário, ou seja, os homens, tá?
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