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O julgamento histórico e os riscos de radicalização

O ex-presidente e os militares de alta patente tentaram contra a democracia brasileira. Provas registradas fartamente em vídeos que produziram para a sonhada posteridade que escreveria a história de uma nova ordem indicam isso (Correio Brasiliense): 

A partir das 9h, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) passa a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete réus por tentativa de golpe de Estado. Há uma robustez de provas contra todos, o que indica que não devem se livrar da condenação. O que os advogados, nos bastidores, discutem é se seus clientes serão absolvidos em um ou outro crime nos quais foram enquadrados, fator determinante para o tamanho da pena de cada um, e onde vão cumpri-las.  

Passada a movimentação na política pelos próximos 10 dias devido ao julgamento histórico, a questão que se tenta antever é o dia seguinte à batida do martelo. Uma das perguntas é sobre a reação da Casa Branca. Integrantes do governo e da oposição trabalham com o pior cenário, que é a imposição de novas sanções econômicas ao Brasil e mais retaliação diplomática — como a inclusão de outros ministros do STF na lista da Lei Magnitsky. É importante lembrar que um primeiro passo nessa direção foi dado, pois oito dos 11 integrantes da Corte tiveram seus vistos de entrada nos Estados Unidos suspensos. 

Politicamente, um novo ataque do governo Trump ao Brasil aumenta o prejuízo eleitoral para os bolsonaristas. Reforça o discurso do governo de que são traidores da pátria, algo que as pesquisas de opinião vêm captando há algum tempo —  apesar da resiliência eleitoral de Bolsonaro. Se do ponto de vista eleitoral o governo pode obter vantagens — sobretudo depois da edição da The Economist, da semana passada, que coloca o Brasil como o "adulto na sala" em termos de atuação em defesa das instituições democráticas —, nos aspectos diplomático e comercial as dificuldades se potencializam.  

Naquilo que tange às conversas sobre distensionamento nas relações com os Estados Unidos, Washington deve desconsiderar Brasília. Na seara comercial, podem se fechar definitivamente as portas daqueles exportadores dependentes do consumidor norte-americano. E a busca por novos mercados, no curto prazo, não tende a evitar acúmulo de prejuízos. 

Isso, porém, não quer dizer que o julgamento de Bolsonaro e dos outros sete seja um grave equívoco jurídico ou um atropelo da Justiça. Não é. O ex-presidente e os militares de alta patente tentaram contra a democracia brasileira. Provas registradas fartamente em vídeos que produziram para a sonhada posteridade que escreveria a história de uma nova ordem indicam isso. Ao apresentar as conclusões finais do caso, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou, inclusive, que os participantes da trama golpista "documentaram quase a totalidade" de seus movimentos.  

Teoricamente, o julgamento histórico que se inicia hoje (ontem) no STF seria um ponto de virada, com a confirmação da força da democracia. Mas, como o ex-presidente ainda é um cabo eleitoral forte, o desfecho tende a reforçar o oportunismo daqueles que necessitam de Bolsonaro para ter algum futuro na política. Há um risco, portanto, de que o discurso extremista não arrefeça e de que siga tensionando as instituições de Estado. 

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