João Eichbaum
Donde viemos e para onde vamos?
Em magnífico artigo publicado no Estadão sob o título de “A Tirania da Mediocridade”, Rubens Barbosa critica a “mediocridade da classe política dirigente” da qual emana “despreparo, nepotismo, apadrinhamento” que, no seu dizer, constituem “formas disfarçadas de corrupção nas nomeações para o serviço público e para as filiações partidárias”. Para ele, o Brasil precisa sair em busca “de eficiência e de resultados com visão de futuro, com uma nova liderança política e uma burocracia mais competente”.
Dono de currículo invejável, o embaixador, e hoje consultor de negócios Rubens Barbosa está coberto de razão. O Brasil, longe de estar “deitado em berço esplêndido”, se comporta como um gigantesco transatlântico que navega, desde longo tempo, por mares encapelados, sem mãos de mestres no leme.
A bem da verdade: nunca, na história desse país, tivemos dirigentes que servissem de modelo como administradores da coisa pública ou distribuidores das graças alcançadas com o dinheiro dos contribuintes. Há muitos e muitos anos se houve falar de um “futuro do país”, que geração nenhuma enxergou, porque ele é sempre adiado pelos dirigentes do momento. O “despreparo”, o “nepotismo” e o “apadrinhamento”, atrelados à pura ambição pelo poder, são as linhas mestras da governança desse país. O povo não passa de importante peça decorativa, para que os poderosos encham a boca com a palavra “democracia”, com a finalidade de exaltar a política, atribuindo aos políticos o papel de salvadores da pátria. E, entra ano, sai ano, no palco da política a pantomima é a mesma: engrandecer a democracia, porque é em nome dela e por conta dela que os políticos enriquecem, num país pobre.
Nos dias atuais, mais do que nunca, a palavra “democracia” serve de senha para desmandos. Do “fundo partidário”, que outra coisa não é senão uma forma imoral, mas “legal”, de sustentar políticos no poder, às prisões desatreladas do “devido processo legal” para combater “atos antidemocráticos”, a “democracia” é enaltecida como saída única para enxergar a luz das estrelas que iluminam o caminho do bem do Brasil – como diria um poeta daqueles tempos em que foi composto o hino nacional.
Mas nós, o povo, nem sonhar podemos com a luz das estrelas. A única luz que nos sobra é a luz mortiça da mediocridade. Sim, da mediocridade, que dá luz ao “despreparo, ao nepotismo, ao apadrinhamento”, regras não previstas numa Constituição “democrática”, para colocar poderes nas mãos de pessoas que acabam se transformando em sumidades, sem qualquer esforço, inteligência ou capacidade.
Só a mediocridade ou a leviandade podem aproveitar o conceito jurídico de democracia para usar o povo como trem pagador de planos de saúde vitalícios para políticos e juízes da alta corte, como patrocinador de “verbas pessoais”, que sustentam o “despreparo” e o “apadrinhamento” em cargos de confiança de todos os Poderes, e como fonte segura, inesgotável, para pagar auxílio-creche, auxílio-transporte, auxílio-alimentação, auxílio-moradia e outros penduricalhos que privilegiam servidores públicos.
Enfim, como tudo na vida: viemos do nada e para o nada voltaremos, enquanto dependermos da mediocridade.
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