Entrevista
Roger Lerina fala sobre Festival, Cinema e Fronteira

Bruno Alencastro/Especial FS - Jornalista é o homenageado desta edição do Festival de Cinema
A edição de 2021 do Festival Internacional de Cinema da Fronteira está próxima. De 17 a 19 de dezembro a 12ª edição acontece na Rainha da Fronteira.
Nesta edição, o homenageado é Roger Lerina. Jornalista e crítico de cinema, ele é integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Foi vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) entre 2008 e 2010 e presidente de 2010 a 2012. Editor do site Roger Lerina (rogerlerina.com), uma plataforma dedicada a noti?cias, artigos e vi?deos sobre cinema, artes ce?nicas, mu?sica, artes visuais e eventos culturais. Sócio do Grupo Matinal Jornalismo, que reúne o site Roger Lerina, a newsletter Matinal, a revista digital Parêntese e o serviço de notícias por WhatsApp ZapMatinal. Foi curador da Mostra de Longas-Metragens do 10º Festival Internacional de Cinema da Fronteira (2018) e do 11º Festival Internacional de Cinema da Fronteira (2019). Curador dos projetos Meu Filme Favorito e Adaptação: Entre a Literatura e o Cinema, ambos realizados no Instituto Ling. Atua como repórter e crítico de cinema no Canal Brasil. Programador das três salas do Cine Grand Café, inaugurado no final de novembro de 2021 no Shopping Nova Olaria, em Porto Alegre.
Antes do início do Festival, Lerina conversou com a reportagem do jornal Folha do Sul e abordou vários aspectos sobre a importância do evento e a produção cinematográfica.
Jornal Folha do Sul - Esta não é a primeira vez que participas do Festival. Como é voltar na condição de homenageado?
Roger Lerina - Já participei do Festival da Fronteira como público, jornalista, curador dos longas-metragens em competição e agora nessa inesperada condição de homenageado. É uma imensa honra ser lembrado por um evento que já destacou personalidades culturais da relevância de Jean-Claude Bernardet, Zezita Matos e Zoravia Bettiol, entre outros nomes. Desde minha primeira ida ao festival noto com satisfação a maneira como a comunidade acolhe o evento e recebe convidados e filmes com interesse e hospitalidade, além do entusiasmo com o qual o diretor artístico Zeca Brito e toda a sua equipe trabalham incansavelmente. É sempre um prazer voltar a Bagé.
JFS - Qual a importância de existir um festival com produções fronteiriças?
RL - O Festival da Fronteira é fundamental como espaço de visibilidade e amplificação da produção audiovisual regional em particular e da cultura local de forma mais ampla. Esse tipo de evento tem uma dupla função de destaque: por um lado, apresenta o cinema produzido na região não só para o público local, mas também para outras plateias; por outro, proporciona aos espectadores daquela região o contato com filmes, realizadores, artistas e convidados dos mais diversos lugares, em um encontro que dificilmente seria possível se não fosse no âmbito do festival.
JFS - Tua avaliação sobre a produção cinematográfica gaúcha e fronteiriça?
RL - O cinema feito no Rio Grande do Sul vem crescendo nos últimos anos em termos quantitativos e, mais importante, qualitativos. Longas recentes como "Tinta Bruta", "Aos Olhos de Ernesto", "Raia 4", "Irmã", "A Colmeia", "A Nuvem Rosa" e "A Primeira Morte de Joana", entre outros, dão testemunho do talento dos realizadores e realizadoras daqui e da variedade de temáticas e abordagens da produção gaúcha - sem esquecer, claro, da rica e intensa produção local de curtas-metragens. Esse crescimento, no entanto, foi afetado primeiramente pelo boicote do atual governo federal à cultura em geral e ao audiovisual em particular, que vem desarticulando as políticas públicas do setor, e em seguida pela pandemia. A tendência, porém, é que o audiovisual brasileiro retome o avanço a partir de 2022.
JFS - É possível dizer que as produções daqui (fronteira) possuem características próprias? Quais são?
RL - A fronteira é um estado interessante em particular por conta de suas potencialidades e ambiguidades, que inescapavelmente acabam por marcar a cultura e a arte desses lugares. Se por um lado a distância dos polos centrais econômicos, políticos e culturais acentua a separação geográfica e a sensação de isolamento, por outro a proximidade de um país vizinho - com língua, cultura e hábitos próprios - estimula a troca em todos os níveis, enriquecendo o caldo cultural local graças a uma diversidade de influências. No final das contas, não é incomum que regiões fronteiriças mesmo ermas sejam tão ou mais cosmopolitas que os centros do poder aos quais estão vinculadas. O convívio com o diferente, com o outro, com o estrangeiro sempre pode ampliar os horizontes - e essa visão que incorpora aquilo que é distinto se reflete também nos filmes fronteiriços.
JFS - Como deve ser o futuro das produções cinematográficas, principalmente no pós pandemia?
RL - Como já me referi, acredito que em 2022 a produção audiovisual brasileira retome o crescimento. As plataformas de streaming como Netflix, Amazon e Globoplay estão investindo forte na produção nacional e vêm anunciando dezenas de novos conteúdos como filmes e séries para o ano que vem. Esse incremento na produção deve reverberar também por aqui no Sul. Creio que em breve poderemos assistir a muitos produtos audiovisuais brasileiros novos, tanto nas plataformas de vídeo quanto nos cinemas - e apesar dos esforços do governo para desmontar esse setor.
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