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Estudo
Município de Bagé perde vegetação nativa por causa da soja

Arquivo - Lavouras da oleaginosa mudaram cenário dos campos da região
Bagé está entre os municípios que mais perdeu vegetação nativa. O avanço da agricultura sobre a vegetação é o responsável por esse recuo - levando em consideração que a cultura que mais avançou é a soja. O Pampa gaúcho foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa nos últimos 36 anos proporcionalmente em relação ao total de sua área. É o que apontam os dados do MapBiomas obtidos a partir da análise de imagens de satélite entre 1985 e 2020. "Apesar de estar na tradição gaúcha, na história da ocupação do bioma e de ser uma atividade que, no Pampa, é mais alinhada aos desafios do Século 21 de preservação da biodiversidade e redução das emissões de carbono, a pecuária sobre campo nativo está perdendo espaço para a agricultura, notadamente a soja", enfatiza o coordenador do mapeamento do Pampa, Heinrich Hasenack.
De acordo com o estudo, o avanço da agricultura sobre a vegetação nativa pode ser notado em todo o bioma, mas foi mais acentuado nas regiões da Fronteira Oeste, o Planalto Médio/Missões, Zona Costeira e regiao da Campanha. Os cinco municípios que mais perderam vegetação natural nos últimos 36 anos foram Bagé, São Gabriel, Alegrete, Tupanciretã e Dom Pedrito.
O bioma Pampa, especialmente na sua porção leste, é considerado uma região de relevância internacional para diversas espécies de aves migratórias. A existência de um mosaico de ecossistemas naturais incluindo lagoas costeiras, praias, dunas, campos, matas de restinga e áreas pantanosas atrai uma notável concentração de aves em diferentes estações do ano, em busca de alimento ou de sítios de reprodução.??
O avanço do uso antrópico sobre a vegetação natural do Pampa acentuou-se na última década, quando também foi possível notar o começo da mudança do perfil econômico do uso do solo. "A substituição da formação campestre pela agricultura favorece a perda de biodiversidade e liberação de carbono na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Mas é também um desvio de uma vocação econômica natural do Pampa", alerta Hasenack.
Nos últimos 36 anos, o Pampa perdeu 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que responde por menos da metade (46,1%) do território. Formações campestres ocupavam 46,2% do território em 1985. Em 2020, eram apenas 32,6%. Nesse período, a? agricultura ganhou mais de 1,9 milhão de hectares de área do Pampa.? A atividade, que ocupava 29,8% do bioma em 1985, passou a usar 39,9% do território em 2020.? No ano passado, era o principal uso dos 44,1% antropizados do Pampa e segue uma tendência de crescimento alto a cada ano.
Unidades de conservação
De acordo com o mapeamento, o Pampa possui muitas espécies campestres por metro quadrado, mesmo quando ocupado por gado, favorecendo a conservação da biodiversidade e do carbono estocado. Embora a agricultura, de um modo geral, tenha boa produtividade, em algumas circunstâncias acaba sendo introduzida em locais com menor aptidão do que a pecuária. Outro fato preocupante é que o Pampa tem a menor proporção de unidades de conservação dentre todos os biomas brasileiros, com apenas 3% do território protegido. Dos quais, se descontarmos as Áreas de Proteção Ambiental, uma categoria com menor grau de proteção, esse percentual cai para 0,6%. Existem regiões do Pampa que já estão excessivamente descaracterizadas, a ponto de colocar em risco a própria capacidade de restauração ecológica com as variantes genéticas típicas dessas regiões.
MapBiomas
Iniciativa multi-institucional que processa imagens de satélites com inteligência artificial e tecnologia de alta resolução em uma rede colaborativa de especialistas, universidades, ONGs, instituições e empresas de tecnologia para a criação de séries históricas e mapeamento de uso e cobertura da terra no Brasil. A UFRGS, com a colaboração da GeoKarten, são as instituições responsáveis pelo mapeamento da vegetação nativa no bioma Pampa dentro da rede MapBiomas.
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