“Você descobre quem tomou banho despido quando a maré baixa”, jogou o balde, Warren Buffett.
A frase diz o Brasil, suas elites políticas e empreiteiras associadas. Desceu a maré, e os líderes que surfavam nas ondas do poder mostraram suas vergonhas, para usar uma expressão à moda Pero Vaz de Caminha, em sua carta inaugural do país. As águas da lava jato respingaram sobre “santos & pecadores”.
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Eu levo uma rosa nas mãos e pedras nos meus sapatos. Bons fatos detiveram-se em meu caminho. A gravação por Fafá de Belém, dos 10 cantos de Leontina das Dores, sob a regência do maestro Evandro Matté e dos músicos da Orquestra Unisinos e Ospa, a ser lançado em teatros no primeiro trimestre de 2017. Também o convite para ser hóspede oficial da casa de Garcia Lorca, durante sete dias em Madri, de 15 a 22 de janeiro próximos, com apresentação de minha poesia por integrantes da Universidade de Salamanca. São fatos que muito me honram e contemplam.
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Uma fase da história é apenas uma fase da história", escreveu Oswald de Andrade. Neste inquietante ano de 2016, fui guinado ao Conselho de Marketing do Spot Club Internacional. Pra mim, deferência que foi pedra de açúcar seguida de chá de losna. Eufórico, desfilei de nariz empinado e passo de ganso. Mas o meu time foi sendo levado, qual os golfinhos encurralados nas praias, até se entregarem à voracidade dos tubarões. Mas Guimarães Rosa me socorre:“Passarinho que se agacha tá pronto pra dar um voo mais alto”.
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“A morte é a última coisa que eu desejo que me aconteça”.(LFV). Tenho em relação à cerimônia do adeus uma atitude de absoluto espanto e respeito. Em um só dia desfaz-se o milagre da vida. Detesto a morte transformada em espetáculo, mas a tragédia aérea da equipe Chapecoense me fez refletir sobre a imensa carga de bondade reprimida que habita o coração das gentes. Uma condoída emoção se espalhou pelos cinco continentes. Em meio a tantos desencontros, a morte estabeleceu, como por encanto, um elo solidário.
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O mapa de Cuba é um lagarto que dorme estendido nas praias do mar caribenho. Em Bagé, minha cidade natal, nos rumos de Aceguá existe uma minúscula igrejinha. Quando o padre Mário, corpulento capuchinho de barbas bíblicas rezava missa, contam os fiéis que sua barba saia por portas, janelas e campanário. Assim a Cuba de Fidel. Ele ocupava o país. Era um mito fabricando mitos. Sua morte exigiu sete dias de silêncio, tal ocorreu quando Stalin partiu. Agora, Cuba se encontra com seu destino. Que o sol a ilumine, a salsa lhe embale e Mr. Trump não perturbe a sua integração ao (des) concerto das nações.
Não basta desejar feliz ano novo. É preciso merecê-lo. Datamos o tempo enquanto as areias tombam no corpo das ampulhetas. Fiquemos com o texto de Ferreira Gullar: “Olho o céu: nada indica que um ano novo começa. E não começa, nem no céu nem no chão do planeta. Começa em teu coração”. Boas Festas, amigos!